PONTO AZUL - EM NOME DO PROGRESSO. o dilema entre a preservação e a renovação

A idéia do progresso, ou seja, de qualquer forma de avanço material ou cultural de uma coletividade, não raro, se bate com a questão da preservação das referências sobre o que somos ou já fomos. Enquanto de um lado se argumenta que um patrimônio antigo, à primeira vista, pode dificultar o dito progresso local; do outro se lembra que esse mesmo bem poderá vir a fazer falta no futuro, como um indicador às atuais e/ou futuras gerações.

Um exemplo desse dilema ocorreu na história dos transportes coletivos em Ponta Grossa com o primeiro terminal da cidade. Lembrado como “Ponto Azul”, esse local não se limitou a uma simples parada de ônibus, mas como também um espaço de socialização. Motivo pelo qual, mesmo com o fim de seu funcionamento, sua memória sobreviveu à destruição material, justificada em nome do progresso local. Sentimento que se justifica porque o “Ponto Azul” foi um dos primeiros avanços significativos no sistema de transportes coletivos da cidade. Inicialmente, o transporte era feito quase que somente por diligências e charretes, que pouco a pouco se tornaram inviáveis, não atendendo à demanda da população cada vez maior.

Só em 1928, dois irmãos: Renê e Francisco Rizental inseriram as primeiras linhas de ônibus da cidade: Uvaranas, Nova Rússia e Oficinas. Oito anos depois, de acordo com o álbum da cidade de 1936, apesar da frota de ônibus ainda se manter limitada a essas linhas, já se discutia o seu aumento e maior organização. Um dos passos decisivos para essa organização foi a construção de um local próprio para os ônibus, num terreno triangular ao lado da praça Barão do Rio Branco em fins de 1946: o “Ponto Azul”. Neste local havia um prédio azul (motivo do apelido), de dois andares, tendo na parte superior uma lanchonete.
Com o aumento progressivo da frota de ônibus, acompanhando a demanda de passageiros, esses pontos foram então transferidos para a praça ao lado, a partir de 1964. Fato seguido pela demolição do prédio, em 1970, cuja nostalgia, porém, atravessou gerações. Tanto que, em 2003, a Prefeitura construiu no local um memorial ao “Ponto Azul”, resgatando, ao menos em parte, o sentimento que ele representou para muitas gerações de ponta-grossenses. Um pedaço da identidade princesina, que uma idéia precipitada de progresso não percebeu.

Luis Marcelo Santos
Historiador – Casa da Memória Paraná